Traduza para / Translate to:

Boo-box

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Camelos Também Choram

english mobile


 
CAMELOS TAMBÉM CHORAM   

 
Affonso Romano de Sant'Anna

Eu tinha lido que, lá na Índia, elefantes olhando o crepúsculo, às vezes, choram.
Mas agora está aí esse filme "Camelos também choram".
A gente sabe que porcos e cabritos quando estão sendo mortos soltam gemidos e berros dilacerantes.
Mas quem mata galinha no interior nunca relatou ter visto lágrimas nos olhos delas.
Contudo,  esse filme feito sobre uma comunidade de pastores de ovelhas e camelos, lá na Mongólia, mostra que os camelos choram, mas choram não diante da morte, mas em certa circunstância que faria chorar qualquer ser humano.
E na plateia, eu vi, os não camelos também choravam.

Para nós, tão afastados da natureza, olhando a dureza do asfalto e a indiferença dos muros e vitrinas; para nós que perdemos o diálogo com plantas e animais, e, por consequência, conosco mesmos, testemunhar com aquela bela família de mongóis o nascimento de um filhote de camelo e sua relação com a mãe é uma forma de reencontrar a nossa própria e destroçada humanidade.

É isto: eles vivem num deserto.
Terra árida, pedregosa.
Eles, dentro daquelas casas redondas de lona e madeira, que podem ser montadas e desmontadas.
Lá fora um vento permanente ou o assombro do silêncio e da escuridão. 
E as ovelhas e carneiros ali em torno, pontuando a paisagem e sendo a fonte de vida dos humanos.

Sucede, então, que a rotina é quebrada com o parto difícil de um camelinho.
Por isto, a mãe camela o rejeita.
O filho ali, branquinho, mal se sustentando sobre as pernas, querendo mamar e ela fugindo, dando patadas e indo acariciar outro filhote, enquanto o rejeitado geme e segue inutilmente a mãe na seca paisagem.

A família mongol e vizinhos tentam forçar a mãe camela a alimentar o filho. Em vão.
Só há uma solução, diz alguém da família, mandar chamar o músico.
Ao ouvir isto estremeci como se me preparasse para testemunhar um milagre.

E o milagre começou musicalmente a acontecer.

Dois meninos montam agilmente seus camelos e vão a uma vila próxima chamar o músico.
É uma vila pobre, mas já com coisas da modernidade, motos, televisão, e, na escola de música, dentro daquele deserto, jovens tocam instrumentos e dançam, como se a arte brotasse lindamente das pedras.

O professor de música, como se fosse um médico de aldeia chamado para uma emergência, viaja com seu instrumento de arco e cordas para tentar resolver a questão da rejeição materna.
Chega. E ali no descampado, primeiro coloca o instrumento com uma bela fita azul sobre o dorso da mãe camela. A família mongol assiste à cena.
Um vento suave começa a tanger as cordas do instrumento.
A natureza por si mesma harpeja sua harmônica sabedoria.
A camela percebe.
Todos os camelos percebem uma música reordenando suavemente os sentidos.
Erguem a cabeça, aguçam os ouvidos, e esperam.

A seguir, o músico retoma seu instrumento e começa a tocá-lo, enquanto a dona da camela afaga o animal e canta.
E enquanto cordas e voz soam, a mãe camela começa a acolher o filhote, empurrando-o docemente para suas tetas.
E o filhote antes rejeitado e infeliz, vem e mama, mama, mama desesperadamente feliz.
E enquanto ele mama e a música continua, a câmara mostra em primeiro plano que lágrimas desbordam umas após outras dos olhos da mãe camela, dando sinais de que a natureza se reencontrou a si mesma, a rejeição foi superada, o afeto reuniu num  todo amoroso os apartados elementos.

Nós, humanos, na plateia, olhamos aquilo estarrecidos. Maravilhados.
Os mongóis na cena constatam apenas mais um exercício de sua milenar sabedoria.
E nós que perdemos o contato com o micro e o macrocosmos ficamos bestificados com nossa ignorância de coisas tão simples e essenciais.

 Bem que os antigos falavam da terapêutica musical. Casos de instrumentos que abrandavam a fúria, curavam a surdez, a hipocondria e saravam até a mania de perseguição.

Bem que o pensamento místico hindu dizia que a vida se consubstancia no universo com o primeiro som audível - um ré bemol - e que a palavra só surgiria mais tarde.

Bem que os pitagóricos, na Grécia, sustentavam que o universo era uma partitura musical, que o intervalo musical entre a Terra e a Lua era de um tom  e que o cosmos era regido pela harmonia das esferas.

Os primitivos na Mongólia sabem disto.
Os camelos também. Mas nós, os pós-modernos cultivamos a rejeição, a ruptura e o ruído.

Haja professor de música para consertar isto.
 
 
Veja o vídeo :
 
 
 
 
 
 

Att.,
Anne Brito

VOCÊ pode salvar uma vida!

"Sou só uma, mas ainda assim sou uma.


Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa.

E por, não poder fazer tudo, não deixarei de fazer o pouco q posso."

Nada + Nada = NADA
Pouco + Pouco = MUITO

Minha Vida Virtual Blogger Orkut Twitter Facebook Google Buzz
Contate-me Google Talk/ akmb1987 MSN/ SwatGirl_2003

0 comentários:

Postar um comentário

Ao comentar no blog, por favor deixe um email, telefone, qualquer coisa para que possamos passar seu apelo adiante, ok? E lembrem sempre: qualquer problema ou duvida em relação ao post, ENTRE EM CONTATO COM O AUTOR DO POST, NAO COMIGO (DONA DO BLOG), pois muitas vezes não tenho como/não sei responder, e acabo não ajudando em nada :(

ShareThis